domingo, 16 de junho de 2013

Descendo do muro

É muito difícil ser “apartidário”, a própria decisão de não tomar partido muitas vezes acaba sendo direcionada e institucionalizada. Tomamos partidos todos os dias. Isso se aplica muito à política atual, em que há partidos os mais diversos possíveis. Eu cresci em meio à política e tentando gostar “dela”. Até hoje não consegui. No entanto posso dizer que conheço políticos admiráveis (e um ex-político que é exemplo pra mim). Posso dizer também que conheci eleitores admiráveis e outros tantos corruptos, e são esses últimos os mais adeptos do discurso “demagogo”, por isso eu diria que sim, temos representantes eleitos, no sentido literal da palavra. Gente que nos representa como um todo, que reflete a nação que somos, ou que FOMOS, em maioria.

Na última semana eu pude ver que a insatisfação com o serviço público é geral, não tinha como ser diferente, acontece que agora atingimos o limite. Eu penso em quanta gente acorda de manhã em suas casas populares financiadas pelo governo e com vários problemas estruturais por irregularidades na construção, saem de casa duas, às vezes três horas adiantados e fazem filas em pontos de ônibus, disputam lugares (e não assentos) em ônibus lotados, vão ao mercado e pra encher UMA sacola gastam por volta de R$ 50 – o que é desproporcional em relação ao salário mínimo – não conseguem ter o mínimo de confiança em serviço de telefonia – que está beirando a inviabilidade; precisam de consulta com um médico especialista pelo SUS e têm que esperar 4 meses, isso sem falar no resto.

Mas na hora da propaganda tudo funciona. Na hora da campanha, o país está em pleno desenvolvimento. Em regra, acreditamos, talvez porque seja da nossa natureza. Mas a certa altura não tem mais como se enganar. Não são apenas R$ 0,20 centavos a mais, é que já não há espaço pra tanto descaso. E a história prova que a melhor forma de ser ouvido não é batendo na porta, ela não vai abrir, um portão vai te deter muito antes. Eu li coisas muito mais conclusivas na internet sobre as manifestações (e coisas muito absurdas também) mas tenho certeza que a imprensa só divulga o que é do próprio interesse. A Polícia, por sua vez, está executando ordens.

Dizem que a mídia e o Ministério Público são o quarto poder. A voz do povo é o quinto, e apesar da pouca consistência das afirmações de vandalismo e de que seriam (aquele pessoal todo) rebeldes sem causa eu pude ler vários relatos de gente séria envolvida. Gente que não tem a mente limitada a ponto de achar que assistir a um jogo da copa ou ser de outra classe social interfere no direito de se manifestar. Não é um pedido, e não é por esmola. Ao que me parece esse povo está disposto a enfrentar a repressão e a perseguição até ser ouvido. Torço pelo sucesso da Copa das Confederações e por qualquer evento que o Brasil sediar. Mas acredito que o protesto não precisa de ocasião, precisa de fundamento e isso tem de sobra.

Esses dias atrás um colega afirmou: “protesto na Europa é sinal de engajamento político.” No Brasil que eu moro também é. Mas acho que eu ia querer conhecer esse país sem problemas que algumas pessoas conformadas pensam morar, ou em que mundo sem protestos acham que vivem. Protestar é um exercício de direito, mais ainda com tanta falta de respeito vinda do governo. O fato de estar eleito não quer dizer que todas as ações e omissões praticadas sejam chanceladas pelo povo. Muito pelo contrário, a manifestação popular é a mais soberana das autoridades, não estamos condicionados a aceitar tudo em decorrência do voto, mas temos o dever de fiscalizar todo o mandato (até porque em época de eleição todo mundo é santo).

Com certeza a violência é um método inaceitável, por isso deve ser reprimida sempre, porém, de forma razoável e proporcional, jamais presumida e provocada, como está acontecendo. Forçar o silêncio em um Estado que se diz democrático é o fim da picada.

Um comentário:

  1. Muito bom, Tainá. Excelente leitura sobre o que pode estar acontecendo neste momento no Brasil. Júlio.

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