quarta-feira, 1 de abril de 2015

Sobre religião, beijos gays e menores infratores

Quem somos nós pra discriminar ou pra aceitar calados a discriminação ao próximo? Como justificar ou apoiar isso? Como compreender essa conduta vinda de gente que se diz espiritualizada? A partir do momento que a religião for usada pra expulsar uma pessoa da igreja (em vez de acolher), ela fracassa. A partir do momento em que ela se restringe ou dificulta o acesso, ela se corrompe. A partir do momento em que ela condena, ela se perde. A partir do momento em que se fala em mandar adolescentes diretamente para a cadeia (os “outros”, que não são da sua família “de bem”, “honesta” e “trabalhadora”, mas que talvez tenham nascido na pobreza e na desgraça e tenham “escolhido” partir pro crime em vez de esperar pelo Baú da Felicidade) um mandamento é quebrado. A partir do momento em que uma família apoia o desfazimento de outra em vez de procurar, ao contrário, um recurso contra isso, um alicerce se rompe. A partir do momento em que um “fiel” desliga a TV e ainda faz questão de manifestar seu ódio a uma novela por causa de um beijo romântico entre duas senhoras, são dois corações que se despedaçam dentro de dois seres humanos iguais aos outros e acabam de ser rejeitados. Não sei se todos lembram ou se importam com isso, mas Jesus Cristo foi tratado dessa maneira. Jesus foi julgado e condenado porque o amor que sentia o sujeitara à exposição, à execução vinda de pessoas que se sentiam superiores ao tempo em que matavam, torturavam e humilhavam seus semelhantes. Qualquer semelhança com o Holocausto não é mera coincidência. Nós erramos o tempo inteiro porque somos imperfeitos e só o amor que recebemos é o que nos salva apesar de tudo. O amor da mãe, do pai, do irmão, do amigo, do cachorro, do companheiro, do cônjuge (seja ele do sexo oposto ou não - e o que temos a ver com isso?) Nós ligamos a TV todos os dias e damos audiência a todo tipo de violência e injustiça, mas é um beijo homossexual que incomoda, uma manifestação de amor e carinho. Ponto pra Globo, que mandou um beijo no ombro pro preconceito. É assim que se deve combater a violência: com amor. Reprimir violência com violência tem que ser sempre a última saída, nunca a primeira, jamais uma forma de educar um indivíduo em formação. Precisamos é de escolas melhores! A sua liberdade de expressão é plena enquanto for lícita, enquanto respeitar o direito alheio, assim como a liberdade do outro não dá a nenhum indivíduo uma permissão para te ofender. Se você não é seguro com a sua sexualidade a ponto de se sentir ameaçado por manifestações públicas de afeto, talvez você precise refletir sobre onde (ou em quem) está o problema. Se você se sente ameaçado pela violência do seu país, lute por um país melhor para todos os cidadãos. Comece por você. Aceite-se, aceite o próximo, lute para ser aceito, lute contra o preconceito (desconceito ou anticonceito) seja ele quanto a orientação sexual, de classe social, de nível cultural. Só a capacidade de amar é que nos faz mais humanos, e não precisa de um elevado grau de instrução pra aprender, a prática ensina. A igreja existe porque todo ser humano precisa de redenção, não porque merece um altar. A realidade é inevitável pra todo mundo. Não tem nada mais indecente que a ignorância.