sexta-feira, 28 de março de 2014

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Hoje à tarde fiquei por um tempo sozinha na sala em que trabalho, onde costumam me acompanhar duas colegas que também são minhas grandes amigas. No silêncio da ausência delas, coloquei meus acústicos pra tocar. Olhei para as pilhas de processos e pensei: como seria minha vida sem isso? Há mais de cinco anos entrei naquela sala pela primeira vez e desde então desconheço outro modo de passar minhas tardes durante a semana, sem ler discussões principalmente sobre dinheiro, ressarcimento, ofensa pessoal e golpes. Parte da crueldade desse mundo que também sabe ser bom. O acaso me levou ao meu atual emprego e eu não sei a razão de ter gostado tanto sem nunca ter me imaginado fazendo isso até o exato dia 4 de janeiro de 2009, talvez por admirar a maioria dos juízes que passam por esse gabinete, por ter aprendido a manusear processos com uma juíza que sempre será exemplo de pessoa pra mim, ou por ter encontrado ali uma rotina que me desafia diariamente, me faz buscar o aprendizado e me deslumbrar com ele, e também a sensação de colocar a cabeça no travesseiro de dever cumprido.

O fórum é uma escola, há uma vida por trás de cada punhado de papel (ou PDF) que espera ser bem e rapidamente tratada e pelo menos metade dos litigantes ficarão insatisfeitos com a decisão judicial. Na maior parte das demandas é muito fácil pro terceiro desinteressado analisar objetivamente os fatos, já nas situações mais complicadas o desgaste mental é considerável. Onde está a beleza disso tudo? O direito é uma tentativa tantas vezes lenta, fraca, inútil, falha, mas também autêntica e persistente de nos fazer mais humanos. Às vezes ridículo, às vezes falso, porque a nossa imperfeição é sua essência e seu motivo. O direito me cansa e me frustra, assim como músicas difíceis de tocar o fazem nos seus primeiros ensaios, e também me contenta, assim como a primeira vez em que consigo tocar uma música nova inteira. O direito, assim como a música, tem um lugar especial na minha vida que se encaixa perfeitamente e a dá mais sentido.


Então eu escolho as palavras e a melodia. A doutrina e as cifras. A gramática e a poesia. A razão e a emoção. Na música e no direito eu por enquanto engatinho. Em ambos eu quero voar. Isso só vai acontecer depois de muitos calos nos dedos, acordes desafinados, livros lidos e provavelmente muitos concursos frustrados. Domingo vai ser o primeiro deles, porque a gente sempre tem que começar de algum lugar. E como na música, a estreia é assim ó: fiasco. O primeiro som é barulho. O primeiro passo é um tombo. Bora? #partiu