quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Panis et circenses, parte 43069395749856309465.

Enquanto você reclama do alto do seu sofá a respeito da vergonha que é isso que você chama de bandidagem, enquanto você não lembra em quem e por que votou, enquanto você não sabe o que cobrar dos seus eleitos e quais suas atribuições, enquanto você repete como um papagaio o que um desinformado sensacionalista tem a coragem de declarar na TV, ao mesmo tempo em que molha a mão de guarda, fura fila, pratica a troca de favor, mas não sabe o que falta pra tirar o seu país da M... milhares de pessoas se espremem dentro de um ônibus, tentando se equilibrar entre um empurrão e outro e chegar bem em casa pra família. Outros andam a pé por aí desprotegidos, sujeitos à própria sorte (ou azar) e uma segurança pública inexistente. Mães e filhas são espancadas dentro de casa. Crianças são vítimas de violência sexual. Mas você tá ocupado assistindo aos lobos engravatados apontarem seus dedos culpados pros cordeiros esfarrapados que já nasceram marginais e não tem o direito de serem ouvidos, pelo contrário, tem o dever de serem engaiolados tão logo quanto possível. Do alto da sua ignorância quem precisa de direitos humanos é você trabalhador ‘honesto’ que tira seu traseiro da cama, coloca no carro, na cadeira do trabalho, no sofá da alienação e vice-versa. Não, criatura! Na periferia tem gente tentando ser gente e não conseguindo, tem gente tentando dormir com barulho de tiro, tem mãe mentindo pro filho parar de chorar, tem gente contando moeda pra encher uma sacola de mercado e perdendo a compra, a esperança e a vida no meio do caminho, tem gente desaparecendo em ponto de ônibus, tem zé ninguém indo preso só pra satisfazer o cretino que esquece que o pobre também tem direitos! Tem pai de família com a dívida com a justiça vencida e pagando dobrado porque ninguém se importa. Por que será que a televisão não mostra a violência rica, a do colarinho branco, a que amanhece de óculos escuros e banca tua cegueira? Enquanto tem gente pagando pra se esconder, tem gente que já desistiu de tentar ser visto, já se acostumou com a indignidade. Direitos humanos é pra quem precisa.

"Mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer... e morrer!"

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