domingo, 24 de março de 2013

fraquezas


A minha vontade de me expressar é tanta que eu aprenderia a tocar violão, violino, guitarra, gaita, violoncelo, faria curso de artes cênicas, de arte circense, de artes plásticas e do que mais o tempo me permitisse, se eu tivesse oportunidade também. Na época de escola eu era presença certa nos corais e teatrinhos, eu queria ser artista quando crescesse. Esse foi o plano durante muito tempo.

Minha infância se dividiu entre bonecas, folhas de papel e lápis de cor. Pintei a parede do meu quarto, pintei os quadros que tenho nas paredes de casa, já perdi a conta de quantas pessoas desenhei, pintei o muro de uma escola, já quis fazer curso de tatuagem, minhas apostilas do ensino médio pareciam cadernos de desenho... a última coisa que eu queria na vida era escolher uma profissão em que a aparência fosse essencial. Eu queria a liberdade de pintar o cabelo de verde e pentear pra cima, já que a gente se veste conforme se sente, e existem muitas cores lindas pra eu querer usar meu cabelo sempre da mesma cor.

Devo ter hiperatividade mental. Já falei muita abobrinha querendo brincar, descontrair, disfarçar alguma coisa. Já falei besteira por tirar conclusões precipitadas e deixar a irritação falar por mim. Já falei demais por achar que a sinceridade não precisa de limitações. Já me arrependi de ter silenciado muitas vezes. Acho sou que sou simplesmente viciada em falar, cantar, dançar, desenhar... meu estado de espírito nunca coube em só mim.

Aí coloquei na cabeça que essas minhas modalidades de tagarelice eram sinal de imaturidade e que eu tinha que aprender a lidar com isso. Mas se eu fosse uma pessoa madura de verdade talvez eu soubesse qual o limite do excesso e qual o mínimo pra não perder a identidade. Errante que sou eu ora me excedo e ora me anulo. Em outras palavras, falo de tudo que há de mais desimportante e fico quieta diante do que mais importa. Falo quando tenho que ouvir, pontos de interrogação me deixam confusa.

Mas uma hora a gente aceita o desafio de ser normal, mesmo que isso signifique fazer de conta que a vida não é tão louca. Que a racionalidade não é tão rara. Que o mundo não é tão cruel. Aceitamos as pequenas vitórias que fazem todo nosso esforço valer a pena. Descobrimos que somos iguais e diferentes e passamos a vida tentando distinguir nossas semelhanças e diferenças, tentando nos acostumar com as regras de convivência que criamos, tentando padronizar o que temos de mais particular. Adquirimos a paciência de um garimpeiro porque sabemos que o preço do achado recompensará a procura, o cansaço e os dedos sujos de terra.

Algumas coisas eu aprendi. Não precisamos de todos os meios do mundo pra nos expressar. Não preciso de todas as cores do mundo pra me identificar. Quem procura acha, quem se procura também se encontra, numa música, num lugar, num outro coração. Quem se encontra, encontra o sossego. Podemos sempre esperar passar a raiva antes de magoar alguém com as nossas “verdades”. Devo ser sincera com os outros como sou comigo mesma: compreendendo.

A maturidade não é uma mudança de atitude, é uma evolução, acontece naturalmente. Não é porque de repente fiquei com medo de falhar que automaticamente passei a ser eficiente. Apenas deixei de ser eu mesma. A perfeição não existe, tentar se aproximar disso é se afastar de si mesmo, se enganar e sufocar por dentro. É artificial. Eu quero aprender errando, com os meus próprios erros, minhas experiências. Quem diz que aprende com o erro do outro não entende, não sente, não se conhece por inteiro, não sabe do que fala e não vive o que diz. A virtude vem de dentro. Riqueza de espírito é ter consciência da própria fragilidade e assumi-la. É ter a deliciosa noção de quão precioso é o aprendizado. E aprender, aprender, aprender, aprender.

2 comentários:

  1. "Sou errada..sou errante..sempre na estrada, sempre distante.. vou errando enquanto o tempo me deixar..."

    Pra variar se encaixou como uma luva. Vc e seus posts fodásticos!

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  2. Que texto lindo de auto crescimento. Amei ler isso, amiga!

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