sábado, 16 de março de 2013

Além da espada, há uma balança


Depois de 5 anos cursando direito, 4 deles trabalhando no Fórum, um dos meus maiores aprendizados foi de que a justiça não tem uma fórmula padrão, tal como apenas encontrar um culpado e condená-lo. Se fosse assim, consideraríamos a terra um planeta-penitenciário lotado de bilhões de seres errantes. Ser justo é uma postura a ser buscada todo o tempo, através de interpretação e bom senso, porque existem dispositivos legais, jurisprudência e justificativas pra quase todos os lados. Pra trabalhar e vivenciar o direito em meio a toda opinião, revolta e ignorância de grande parte da sociedade, apenas se pode contar com a consciência limpa. Sem isso, nada valeria a pena. Vivemos em um mundo de aparências, corrupção e desconfiança. O mais irônico é que as pessoas que mais repudiam o governo, as autoridades e o comportamento alheio, também são as que menos demonstram questionar-se a si mesmas, sobre as próprias convicções e atitudes sem fundamento, muitas vezes ignorantes, egoístas, de simplesmente desacreditar no próximo porque, vai entender, “perderam a fé na humanidade”, curioso que essa mentalidade normalmente seja sinônimo de desconhecimento. Isso é inaceitável pra mim. Enquanto houver motivação pra trabalhar da melhor forma que eu for capaz, eu vou acreditar que também existe muita gente boa por aí fazendo o mesmo, e, antes que eu me desencante, eu vou procurar saber. Eu vou, pelo menos, ao ouvir uma acusação, procurar saber sobre sua procedência, sobre como eu poderia ser útil pra resolver, antes de colocar a culpa no outro. Eu quero poder oferecer às pessoas a chance que espero que elas me deem. Eu não vou aceitar prontamente tanta negatividade generalizada. Há muito a ser feito, e eu prefiro ocupar a mente com coisas boas, do que sujeitar a mente vazia à eterna rebeldia sem causa e à ilusão de que somos melhores que alguém. Quero jamais perder a sensibilidade, a humanidade, a ideia de que somos todos iguais, na alegria, na tristeza, na hipocrisia, na impulsividade e nos atos falhos, nas diferenças, nas incompreensões, nos sofrimentos e evoluções. A justiça terrena pode ser lenta, sem dúvidas é singela... mas um dia prestaremos conta, lado a lado, à mesma autoridade que nos deu o dom da vida. Somos todos imperfeitos, o poder do julgamento é o mais delicado que existe - embora a gente insista em querer exercê-lo - mas, a verdade é que, eventualmente, ainda seremos todos subjugados por ele. O que eu sempre tenho vontade de dizer é: coloque-se, a si próprio, no banco dos réus de vez em quando. 

Um comentário:

  1. Que reflexão perfeita do que é o direito, a justiça e a sociedade. Essa ultima frase REFLETE tudo: colocar-se no banco dos réus. Palavras perfeitas, amiga. Adoro saber que existe gente assim no mundo.. não me sinto tão sozinha!

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