terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vidas vulgarizadas

Adoro palestras boas, que nos levam longe. Ainda que o longe seja pra ver situações muito ruins referentes ao direito penal.

Lembrei de quando comecei a lidar com processos criminais no estágio, e a primeira reação: a diferença entre os nomes das partes que os integram. Nos processos cíveis a gente vê nomes parecidos com aqueles com os quais convivemos. Não nos criminais. Nestes, pelos nomes fica evidente que a classe social à qual pertencem os indiciados é inferior.

O que tanto isso quer dizer, eu não seria capaz de entender tão cedo, não tenho aquela visão toda (que o palestrante têm). E a verdade é que só quem sabe disso, mesmo, é quem vive a situação. O que eu já sei é que a questão vai além dos banalizados problemas sociais.

Acontece que o que era pra ser o nosso sistema de repressão têm funcionado como uma indústria de marginalidade. O que deveria reprimir o crime, acaba por reprimir, isso sim, uma classe social. Violentamente.

Uma classe que tem o direito à educação de qualidade violado, o direito ao lazer violado, à segurança, violado; à igualdade, violado; à liberdade, violado; à dignidade, violado. E, pior, o direito à vida, por vezes, violado. Vidas insignificantes que não passam de estatísticas. Vidas que se vendem por esmola. Vidas que têm que se contentar em viver à margem da sociedade. Vidas dignas de indiferença, desconfiança e preconceito. Vidas destinadas à exclusão. Vidas que assistem de mãos atadas à impunidade de tantos engravatados. Vidas de grito silenciado. Vidas que não tem dinheiro para um bom advogado. Vidas vítimas de seu uniforme esfarrapado. Vidas julgadas sem significado.

Antes de tudo, vidas. Valiosas como a nossa.

2 comentários:

  1. Essas vidas todas que você citou caem facilmente na marginalidade justamente por nunca terem tido nada do Estado e consequentemente das pessoas, pois estamos cegos para elas. Não as vemos, seja por defesa própria ou por medo, ou por não saber o que fazer.

    E essa pessoas passam a roubar e fazer até coisas piores para se manter. E nesse caos todo, e sendo até um pouco egoista, eu me pergunto: "E onde vamos parar no meio disso tudo? Nós, a classe média (eu sou da classe média)".

    É um círculo vicioso que não tem pra onde fugir. Qual a solução imediata pra acabar com tudo isso.

    Eu tenho uma mas que talvez não seria imediata. Seria o fim da corrupção. Mas como combater a corrupção se os beneficiados por ela são os mesmos que podem agir por nós?

    Beijo

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  2. Adorei esse! Você escreve de direito muito bem, Tai! E eu acabei de ler uma carta de um preso ao MP pedindo pra que julguem o processo dele, porque faz 10 meses que ele tá na cadeia e nunca "fui no forum". Vê, ja fiquei morrendo de dó. Vê se o sistema penal nao poderia ser mais justo com ele? Enfim.. "teu dever é lutar pelo direito, porem, quando encontrares o direito em conflito com a justiça, luta pela justiça"

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