Hoje à tarde fiquei por um tempo
sozinha na sala em que trabalho, onde costumam me acompanhar duas colegas que também
são minhas grandes amigas. No silêncio da ausência delas, coloquei meus acústicos pra tocar. Olhei para as pilhas
de processos e pensei: como seria minha vida sem isso? Há mais de cinco anos
entrei naquela sala pela primeira vez e desde então desconheço outro modo de
passar minhas tardes durante a semana, sem ler discussões principalmente sobre
dinheiro, ressarcimento, ofensa pessoal e golpes. Parte da crueldade desse
mundo que também sabe ser bom. O acaso me levou ao meu atual emprego e eu não
sei a razão de ter gostado tanto sem nunca ter me imaginado fazendo isso até o
exato dia 4 de janeiro de 2009, talvez por admirar a maioria dos juízes que
passam por esse gabinete, por ter aprendido a manusear processos com uma juíza
que sempre será exemplo de pessoa pra mim, ou por ter encontrado ali uma rotina
que me desafia diariamente, me faz buscar o aprendizado e me deslumbrar com
ele, e também a sensação de colocar a cabeça no travesseiro de dever cumprido.
O fórum é uma escola, há uma vida
por trás de cada punhado de papel (ou PDF) que espera ser bem e rapidamente
tratada e pelo menos metade dos litigantes ficarão insatisfeitos com a decisão
judicial. Na maior parte das demandas é muito fácil pro terceiro desinteressado
analisar objetivamente os fatos, já nas situações mais complicadas o desgaste
mental é considerável. Onde está a beleza disso tudo? O direito é uma tentativa
tantas vezes lenta, fraca, inútil, falha, mas também autêntica e persistente de
nos fazer mais humanos. Às vezes ridículo, às vezes falso, porque a nossa imperfeição
é sua essência e seu motivo. O direito me cansa e me frustra, assim como
músicas difíceis de tocar o fazem nos seus primeiros ensaios, e também me contenta,
assim como a primeira vez em que consigo tocar uma música nova inteira. O direito,
assim como a música, tem um lugar especial na minha vida que se encaixa
perfeitamente e a dá mais sentido.
Então eu escolho as palavras e a
melodia. A doutrina e as cifras. A gramática e a poesia. A razão e a emoção. Na
música e no direito eu por enquanto engatinho. Em ambos eu quero voar. Isso só
vai acontecer depois de muitos calos nos dedos, acordes desafinados, livros
lidos e provavelmente muitos concursos frustrados. Domingo vai ser o primeiro
deles, porque a gente sempre tem que começar de algum lugar. E como na música,
a estreia é assim ó: fiasco. O primeiro som é barulho. O primeiro passo é um tombo. Bora?
#partiu
Que relfexao linda *-* adorei migues! Vc eh meu orgulho no direito e na musica, assim como meu apoio <3
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