domingo, 23 de fevereiro de 2014

now playing

ENTÃO que as minhas primeiras lembranças da infância são de cantar errado as músicas dos Beatles, Bee Gees, Elvis, Zezé Di Camargo, Leonardo... e aquela música infantil da borboletinha, que devo ter cantado mais ou menos umas 100 milhões de vezes. Depois disso dei muitos shows ao som de Spice Girls e então entrei na fase ‘Sandy e Junior’, tempo em que também conheci Djavan e Marisa Monte. Depois veio o rock, o heavy metal, o progressivo... e o John Mayer. A mistura está formada. Eu não sou dessas pessoas que diz que ouve música. Eu canto junto mesmo. Mal. Ardida. Desafinada. Emocionada. E o tempo todo. Quando toca uma música de que eu goste muito eu não consigo continuar o que estou fazendo, isso inclui desde conversar ou executar algum movimento. Não consigo. Não é exagero. Quando eu gosto de verdade de uma música eu gosto de cada som nela... gosto da primeira voz, da segunda, dos backing vocals, gosto do som do violão, da bateria, do piano, do contrabaixo, o da guitarra às vezes me encanta tanto que acompanho o som do instrumento com as mãos e a voz. Gosto de perceber que tem instrumentos que não consigo reconhecer também, e fico curiosa pra saber o que faz aquele som. Graves de tremer me dão arrepios dos bons. Acho que gaita e violão são o casal mais perfeito em matéria instrumental. O romance que eu mais gosto na vida é o Fantasma da Ópera e Erik é meu personagem preferido, é o espetacular anjo da música. Todas as minhas emoções se afloram com a música de um jeito que eu não consigo expressar naturalmente. Uma música sempre vai me aliviar quando eu precisar chorar, quando a nostalgia bater a música vai me levar pra onde eu quiser ir, quando eu sentir raiva vai ser através da música que vou mandá-la embora, a felicidade sempre vai me dar uma vontade imensa de dançar e eu tenho que me controlar pra não dançar o tempo todo na academia, já que o som fica ligado mas as pessoas ficam de olho (isso rende umas risadas). Associo pessoas às bandas que elas gostam. Os primeiros rostos que desenhei foram ao som de Sandy e Junior. Aprendi a dirigir ouvindo System of a Down. Conheci Londres ao som de Red Hot, Madonna e Lulu Santos, viajei de trem a Warwick/UK ouvindo ‘we only get what we give’. Comecei a ouvir Jimi Hendrix e Rita Lee depois de ler um livro que se chama ‘grogue’. Conheci o som de John Mayer na Rádio Uol, na playlist dos grammys, que ele ganhou por ‘daughters’, e prometi pra mim mesma que iria no primeiro show que ele anunciasse no Brasil (check!!!), também prometi graças ao álbum ‘Try’, que aprenderia a tocar guitarra (quase lá). Durante o ensino médio ouvi muito Linkin Park, na faculdade era Kiss, Dream Theater, Florence and The Machine, Skank e Queen, e tive a sorte de ir ao musical dedicado ao Queen, que foi uma noite inesquecível, por isso acho que simplesmente ouvir uma música não é senti-la por inteiro, o ‘ao vivo’ é... surreal. Vasculhar novos artistas é hobby e o cinema é um grande aliado, assim como os programas de calouros. Mudei o gênero da playlist e a cor do cabelo sem receio durante a vida universitária, como quem procura o próprio tom pra montar um arranjo. Essa busca é gostosa e eterna, mas o caminho tá bem mais claro e mais manso. A minha guitarra depois de muitos anos guardada agora vai esperar só mais um pouco, já que o violão veio primeiro, veio em boa hora e veio pra ficar. O pouco que eu aprendi a tocar até agora é já suficiente pra me deslumbrar. Nessa vida de playlists eu sempre tive o cuidado de não associar meus paqueras à música (prioridades?), ou fazer isso o mínimo possível e jamais com músicas do John Mayer, pra evitar o caso de que dando errado acabe virando trilha sonora de fossa. Óbvio que não adianta nada. É ridículo e impraticável. Porque no meio do caminho sempre existe aquele ponto em que Murphy te sonda atrás da moita depois de ter colocado a jaca ali no seu caminho, pra você enfiar o pé com toda exatidão. E largar de ser besta, porque até a jacada merece um repertório.

Um que seja especial! ;)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Panis et circenses, parte 43069395749856309465.

Enquanto você reclama do alto do seu sofá a respeito da vergonha que é isso que você chama de bandidagem, enquanto você não lembra em quem e por que votou, enquanto você não sabe o que cobrar dos seus eleitos e quais suas atribuições, enquanto você repete como um papagaio o que um desinformado sensacionalista tem a coragem de declarar na TV, ao mesmo tempo em que molha a mão de guarda, fura fila, pratica a troca de favor, mas não sabe o que falta pra tirar o seu país da M... milhares de pessoas se espremem dentro de um ônibus, tentando se equilibrar entre um empurrão e outro e chegar bem em casa pra família. Outros andam a pé por aí desprotegidos, sujeitos à própria sorte (ou azar) e uma segurança pública inexistente. Mães e filhas são espancadas dentro de casa. Crianças são vítimas de violência sexual. Mas você tá ocupado assistindo aos lobos engravatados apontarem seus dedos culpados pros cordeiros esfarrapados que já nasceram marginais e não tem o direito de serem ouvidos, pelo contrário, tem o dever de serem engaiolados tão logo quanto possível. Do alto da sua ignorância quem precisa de direitos humanos é você trabalhador ‘honesto’ que tira seu traseiro da cama, coloca no carro, na cadeira do trabalho, no sofá da alienação e vice-versa. Não, criatura! Na periferia tem gente tentando ser gente e não conseguindo, tem gente tentando dormir com barulho de tiro, tem mãe mentindo pro filho parar de chorar, tem gente contando moeda pra encher uma sacola de mercado e perdendo a compra, a esperança e a vida no meio do caminho, tem gente desaparecendo em ponto de ônibus, tem zé ninguém indo preso só pra satisfazer o cretino que esquece que o pobre também tem direitos! Tem pai de família com a dívida com a justiça vencida e pagando dobrado porque ninguém se importa. Por que será que a televisão não mostra a violência rica, a do colarinho branco, a que amanhece de óculos escuros e banca tua cegueira? Enquanto tem gente pagando pra se esconder, tem gente que já desistiu de tentar ser visto, já se acostumou com a indignidade. Direitos humanos é pra quem precisa.

"Mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer... e morrer!"

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

carpe diem

Contra todo não desse mundo existe um sim ambulante. Alguém que esperou, que acreditou, que se decepcionou, que superou e riu. Não é a mesma pessoa que teve o não e não se conformou... é a pessoa que acreditou na mentira do sim enquanto foi possível e aceitou o não quando se revelou, não sem lamentar, mas com a certeza de que foi fiel ao que sentiu e a quem sentiu, e que dali por diante seria fiel a si mesma, não sem dificuldade, não sem hesitar, não sem fraquejar, não sem sofrer. Não sem ceder à primeira vontade de começar tudo de novo obstinadamente. Porque é assim. Porque o mundo é dos que tentam, é dos que são desistidos sem desistir, é dos que esquecem e repetem, é dos que desaprendem a desanimar. É dos que aceitam o risco, perdem o sono, se viram do avesso, plantam, chovem e adubam mesmo no solo infértil e sem reclamar, porque a vida nasce do esforço. Gente assim que faz das tripas coração, que tem medo e mais coragem ainda, que quebra a cara tentando fazer o certo e vai continuar quebrando, e que floresce na menor oportunidade, se ilumina diante do desafio, sabe que o fracasso nunca é eterno, que tem as asas cortadas e as reconstrói cada vez mais rápido, sabe querer e sabe o que quer, que tira proveito até do tombo. Gente que persegue a surpresa boa até encontrar e pra isso faz o mundo acontecer. Estão sempre em movimento. Gente assim com quem eu quero seguir. Quero aprender. Quero ser quando eu crescer.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Diga não

N-ã-o. Você tem dificuldade em dizer isso? É fácil, só 3 letras, rapidinho e não te custa nada. Tem medo de chatear alguém? Então seja maior que o seu medo. Decepcionar e ser decepcionado faz parte do dia a dia e todo mundo tem que aprender a viver com isso. Não se engane achando que iludindo outra pessoa estará ajudando. Pelo contrário, estará criando uma expectativa sabendo que não a satisfará. Uma expectativa que talvez não fosse criada por outro modo. Isso é bastante errado. E não pense que evitar o não pode dar certo, porque o que não é sincero simplesmente não se sustenta. Não pense estar tentando. Não pense não estar mentindo! Pra si mesmo e pros outros, que passam a ser teus sombras inconvenientes contando com você em vão, só porque te acreditaram. Muito mais fácil levar um não e seguir em frente do que achar que tá tudo bem e não estar nem bem, muito menos “tudo”. É muito mais difícil perdoar um não que teve de ser descoberto sozinho. Deixe que outra pessoa diga o sim no seu lugar. Mas não faça questão de preservar um assento que deixará vazio (ou mais ou menos ocupado – poupe-nos disso). Esse direito não te pertence, essa obrigação jamais existiu. E se você acha que no mundo existe alguém digno de ser esperado até o fim da noite, até o fim da paciência, até o fim da picada, repita comigo e aprenda de uma vez por todas: NÃO!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Pelo razoável

“Aristóteles definiu o homem como um ser racional. O homem não é racional, e é bom que não seja. O homem é 99% irracional, e é bom que seja assim porque, através da irracionalidade, tudo o que é belo e amável existe. Através da razão, matemática; através da desrazão, poesia. Através da razão, ciência; através da desrazão, religião. Através da razão, mercado, dinheiro, rúpias, dólares; através da desrazão, amor, canção, dança. Não, é bom que o homem não seja racional. O homem é irracional.” (Osho)

Ajustando isso ao dia de hoje: através da razão, ciências exatas; através da desrazão, ciências humanas. Através da razão, interpretação; através da desrazão, compreensão. Através da razão, inclusão; através da desrazão, solidariedade. Através da razão, conhecimento; através da desrazão, talento. Através da razão, leis; através da desrazão, princípios. Através da razão, direito; através da desrazão: justiça.

Porque dignidade e liberdade merecem mais que fórmulas prontas, precisam de atenção. É muita vida pra pouco código, muita história pra poucas páginas, muita versão pra uma verdade só.

A diferença é, e sempre será: saber colocar o coração junto.