domingo, 21 de novembro de 2010

Prescindir

Prescindir. Verbo transitivo. 1. Separar mentalmente; abstrair. 2. Dispensar, não precisar de. 3. Renunciar, recusar.

Dizem que jovens - os que assim se vêem ou são vistos, pouco importando a idade - não sabem simplesmente esperar. Não tem calma, nunca estão satisfeitos e estão sempre em busca alucinada de alguma coisa, às vezes se esquecendo do que já tem. É, deve ser verdade. Mas quem, diga-me, quem, há alguém que saiba esperar? Alguém que admita o total desconhecimento sobre o que está além do nosso limitado horizonte de visibilidade? Se essa habilidade existe, eu preciso aprender. Preciso aprender a esperar o ônibus, a fila, os editais, as respostas, as pessoas. Os tijolos. Preciso esperar os tijolos antes de começar a construir meus pilares invisíveis. Preciso ensinar isso também. Eu precisaria me desapegar do relógio, porque ora me cobram hora certa, ora me dizem para que simplesmente espere que a hora chegue. O que tiver que acontecer vai acontecer, sempre na hora certa. Mas a hora certa não é previamente estabelecida, marcada, prevista, sequer previsível. Muito menos a gente sabe o que vai acontecer. O que a gente sabe é que pode acontecer qualquer coisa, qualquer hora, que as possibilidades existem, e que as impossibilidades são criadas. A verdade é que eu não sei e você também não sabe. Vou seguir carreira jurídica, vou ser dona de casa. Vou ser os dois. Vou ser nenhum. Vou tocar violão na estação, desenhar na calçada, dar a volta ao mundo de bicicleta. Tudo na hora certa, a mais incerta das horas. Por que raios a dizemos certa? O quê os relógios sabem das horas certas? Nem as respostas certas respondem nossas perguntas incertas. Que horas são, se já, se ainda, se por enquanto, se daqui a pouco, se espera, se apressa, se até, se é agora, se vai ser depois, se foi antes, se é nunca mais, se é pra sempre, que caminho tomar, em quanto tempo chegar. Por que eu insisto em perguntar e as pessoas insistem em responder. Insistem em perguntar. Insisto em me perguntar. Preciso muito não precisar disso. Viver é impreciso.